Lá vou eu para o trabalho.
Antes, café-da-manhã de água e pressa.
Passa um, passam dois, passam três ônibus... todos l-o-t-a-d-o-s!
- Não vou não! Minha pressa é menor que o meu próprio respeito!
Dei sorte: o ônibus seguinte vinha vago!
Tudo parecia engraçado ali dentro... as pessoas tão carrancudas, a música alta, o balança-mais-não-cai de cada freiada, a belezura de alguns, a feiura de outros, as janelas abertas, as janelas fechadas, as ruas largas lá fora, as árvores correndo pra trás, o vento, o sol.
Cheguei!
Tanto 'Bom Dia': 'Bom Dia' pra cá, 'Bom Dia' pra lá... com tanto 'Bom Dia' percebo a impossibilidade de se seguir um dia ruim!
Abro a minha sala e encontro todos os objetos, ali, paradinhos, imóveis, limpos, milimétricamente arrumados, cada um em seu devido lugar, sem que nenhum invada o espaço que o outro ocupa. Só funcionam comigo: ar-condicionado, computador, papéis, cola, tesoura, régua, grampeador, perfurador, som, caixa de som, cd, livro... ah!
Lembrei-me dos jornais! Mais três lances de escada... saio, desço e eles estão em minhas mãos... subo novamente! Silêncio na sala ainda sem música! Silêncio na sala ainda sem gente! E os objetos lá, respeitavelmente em suas imobilidades!
Por muitas vezes eu quis ser um deles, misturar-me ali entre os clips, os grampos, o durex, mas hoje não, hoje eu acordei com vontade de ser gente, de rir de tudo que é gente, rir das coisas que só a gente faz, da barulheira, da desoraganização, do caos, das respirações, dos devaneios, dos sonhos, das antipatias, das discórdias, das escolhas, dos enlaces, das trocas, das conquistas, das desilusões, das fomes, dos desejos, dos enganos, das mentiras, das verdades, dos empurrões, das gargalhadas, dos choros; enfim, das vidas!
Rir das vidas! Rir da minha vida!
Quero morrer, digo, viver de rir!
